SV#125: O vinho com o nome mais estranho do mundo

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O vinho com o nome mais estranho do mundo

Falando em vinho com nome estranho, já viu esse aqui ? É uma denominação de origem inteira! Conheça esse italiano considerado o vinho com o nome mais estranho do mundo pelos Master of Wine Jancis Robinson e Hugh Johnson em seu cultuado World Atlas of Wine (e confira o que mais eles pensam sobre ele!).

Est! Est!! Est!!! di Montefiascone DOC (???)

Os pontos de interrogação são meus, mas os de exclamação realmente fazem parte (uma parte importante!) do nome dessa denominação de origem controlada (DOC) italiana! O nome, para um vinho, jé me pareceu bem peculiar. Quando percebi que eram vários vinhos – uma DOC inteira, na verdade – corri pesquisar (e provar, claro!). Aqui estão meus achados.

Diz a lenda…

Segundo o site wikipedia há várias versões para a história por trás do nome de Est! Est!! Est!!! di Montefiascone, mas todas vem sendo repetidas há séculos e têm em seu eixo central um bispo católico em viagem pela Itália. Bom amante de vinhos, o bispo envia à sua frente um mordomo com a missão de encontrar os melhores vinhos do caminho para que o Bispo possa ir diretamente a eles quando passar por lá. O mordomo, quando achasse um bom vinho, deveria marcar a porta da taberna com a palavra est (que em latim significa “há” e abrevia a expressão vinum est bonum: “há bom vinho”).

Aqui ! Aqui !! Aqui !!!

Segundo a lenda. o mordomo do bispo ficou tão impressionado com os vinhos de Montefiascone que encheu a porta do local com a marcação combinada – est – e muitos pontos de exclamação, como quem diz Aqui ! Aqui !! Aqui !!!, para que seu chefe não corresse o risco de passar batido. Eu consigo até visualizar um sujeito, no auge da empolgação ébria, pulando e rabiscando a porta do local!

DOC !!!!!

Os vinhos Est! Est!! Est!!! ganharam status de denominação de origem controlada em 1966. É um vinho branco obtido a partir das uvas Trebbiano Toscano. Malvasia Bianca e Trebbiano Giallo da região de Lazio, que inclui Roma. Os pontos de exclamação são parte importante do nome pois refletem a empolgação do responsável por sua posterior fama.

Verdade ou Mentira ?

Nenhuma das versões tem comprovação, mas a história narrada por Tom Stevenson na “The Sotheby’s Wine Encyclopedia” oferece muitos detalhes saborosos. Segundo Stevenson a história teria ocorrido no final de 1110 ou início de 1111, quando o bispo alemão do século XII, Johann Fugger, viajava a Roma para a coroação de Henrique V como Santo Romano Imperador.

Stevenson ainda relata que o próprio bispo teria ficado tão impressionado com os vinhos que cancelou o resto de sua jornada e ficou em Montefiascone até sua morte, juntamente com Martin, o mordomo. Os dois teriam consumido o tão precioso líquido com tanta avidez que os moradores fizeram um monumento em homenagem ao bispo, onde acredita-se que tenha sido enterrado. Na lápide está escrito: “est est est-propter nimium est-Johannes de Foucris-Dominus meus-Mortuus est” – algo como: Aqui Aqui Aqui – Joahnes de Foucris, meu senhor, jaz aqui.

Uma das fontes citada no wikipedia, o jornal Bangor Daily News de 15/04/1980, conta ainda que Fugger, em gratidão e na ausência de herdeiros, doou seus bens para os habitantes de Montefiascone sob a condição de que a cada ano um barril do seu amado vinho fosse derramado sobre seu túmulo. Um ato da igreja acabou alterando essa prática para permitir que o vinho, em vez de derramado, fosse doado ao seminário local.

Tão bom assim mesmo ?

Os críticos especializados em vinhos da atualidade parecem não se impressionar tanto quanto o bispo com o Est! Est!! Est!!!: Hugh Johnson e Jancis Robinson o definem em seu The Word Atlas of Wine como sendo “o vinho branco mais sem-graça com o nome mais estranho do mundo”, enquanto Joe Bastianich e David Lynch dizem que a história é mais interessante que o vinho.

Ok, não chega a ser um vinho inesquecível, mas o que eu provei estava longe de ser entediante (devo dizer que já constatei erro no venerado Atlas da super Jancis antes, então…) mas também não é apagado: tem aroma suave de lima e toranja e uma super acidez que combinou divinamente com o espaguete al scoglio que eu preparei – scoglio, em italiano, são conjuntos de pedras no mar, tipo recifes, e a “pasta ao scoglio” é com os bichos que vivem no lugar – mariscos, camarões, polvos, lagostines etc..

Podem ser encontrados nos mercados, especialmente na região de Roma, a partir de 3 euros. O que eu provei custou 3,55 euros e o mais caro que eu já vi era de 8 euros.

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