SV#123 – O mito de guardar o vinho deitado (e outras histórias)

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SV123: guardar o vinho deitado é mito (foto: D A V I D S O N L U N A em Unsplash)

Todo mundo sempre fala que tem que guardar o vinho deitado, né? Aí, em 2018 vem um português dizer que isso é uma balela que se perpetua apenas porque as pessoas não lêem artigos científicos e embola o meio de campo todo.

No episódio de hoje, outro português – o pesquisador Dr. Paulo Lopes – nos conta o que a ciência tem a dizer sobre o mito de guardar os vinhos deitados e outras novidades e curiosidades sobre as rolhas de cortiça.

“A rolha jamais secará com quase 100% de umidade no headspace, então é um mito que você precisa guardar um vinho deitado”

Dr. Miguel Cabral, diretor de P&D da Amorim

Afinal, é preciso guardar os vinhos deitados ou não?

Um dos dogmas mais enraizados do mundo do vinho determina que as garrafas devem ser guardadas deitadas. Assim, o líquido ficaria em constante contato com a rolha impediria que secasse. A razão em manter a rolha úmida é a preservação da sua capacidade de impedir a entrada de oxigênio na garrafa, pois a entrada excessiva de oxigênio oxida e estraga os vinhos.

A controvérsia do vinho deitado ou em pé

Contudo, enófilos antenados talvez se lembrem da bombástica entrevista de 2018 do Dr. Miguel Cabral, diretor de P & D da Amorim, maior corticeira do mundo. Segundo Miguel “a ideia de que guardar um vinho deitado impede que a cortiça seque é besteria”, concluindo que “O AWRI publicou um artigo sobre isso em 2005, mas o problema é que as pessoas não lêem artigos de pesquisa, só querem notícias”.

O instituto citado, AWRI, é o Australian Wine Research Institute. Eles não apenas avaliaram o ingresso de oxigênio em garrafas com diferentes tipos de vedantes (rolhas naturais, sintéticas e rosca), como também consideraram o efeito da posição de armazenagem (vertical ou horizontal). Concluindo, após 5 anos de análises da composição, cor e sabor dos vinhos, os pesquisadores observaram que  “a orientação da garrafa durante o armazenamento teve pouco efeito na composição dos vinhos examinados”. Ou seja: vinho deitado ou em pé: pouco importa!

Adicionalmente, em 2006, um estudo bordalês ( Impact-of-storage-position-on-oxygen-ingress-through-different-closures-into-wine-bottles ) chegou a conclusões semelhantes. O trabalho de pesquisa foi desenvolvido na Faculte´ d’Oenologie de Bordeaux, teve como líder o Dr. Paulo Lopes, meu entrevistado neste episódio.

Por que, então, guardar o vinho deitado?

Ainda que não haja ingresso de oxigênio da atmosfera para o interior do vinho (é isso que o Paulo explica na entrevista), pode ser interessante armazenar os vinhos deitados. A razão seriam os corklins, compostos fenólicos presentes nas rolhas. Assim como acontece no caso das barricas, compostos presentes nas rolhas de cortiça podem passar para o vinho – desde que estejam em contato.

Confira o episódio!

Convidado: Paulo Lopes

Paulo Lopes é PhD em viticultura e enologia pela Université de Bordeaux. Especialista em vinhos e embalagens, com amplo histórico na indústria vinícola. Atualmente ocupa a posição de Gerente Sênior de Inovação na Corticeria Amorim.

Referência bibliográfica

Guardar o vinho deitado é nonsense, diz cientista >>

Impacto do tipo de vedante e condições de armazenagem nas propriedades de um Riesling e um Chardonnay barricado por 5 anos. Confira o estudo australiano sobre a evolução dos vinhos e a posição de armazenamento >>

Análise do efeito da posição de armazenamento de garrafas de vinho com diferentes vedantes – Estudo bordalês >>

Estudo sobre os corklins – compostos das rolhas que migram para o vinho >>

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